Teoria do Consumidor
A Preferência do Consumidor
Critérios pelos quais consumidores definem bens que são preferíveis em relação a outros.
Cesta de Mercado —conceito. Ou cesta de mercadorias — mercadorias agrupadas em conjuntos diferentes. É um conjunto de bens (uma ou mais mercadorias). Uma cesta de mercado pode ser preferida a outra que contenha uma combinação diferente de mercadorias.
Premissas básicas:
- as preferências são completas. Dado duas cestas de bens, A e B, o consumidor é capaz de dizer qual delas prefere ou se é indiferente. Preferência completa — consumidor é capaz de determinar com clareza sua preferência em relação a um conjunto de bens
- as preferências são transitivas. Se o consumidor prefere a cesta A em relação à cesta B, e prefere a cesta B à cesta C, então o consumidor prefere a cesta A em relação à cesta C (esta é uma propriedade da transitividade). Permite consistência na análise da preferência do consumidor.
- os consumidores sempre preferem quantidades maiores de uma mesma mercadoria. Mais é melhor que menos.
- Taxa Marginal de Substituição.
A Curva de Indiferença
Curva de indiferença: representa todas as combinações de cestas de mercado que proporcionam o mesmo nível de satisfação a uma pessoa.
Ex.: Cada cesta de mercado tem uma quantidade de alimentos e outra de vestuário. O consumidor vai sempre preferir a cesta com maior quantidade de ambos. Dada que as preferências são completas, o consumidor consegue determinar sua preferência em relação ao conjuntos de cestas. Em alguns casos, o consumidor é indiferente, ou seja, ele tem o mesmo nível de satisfação para certas combinações entre alimentos e vestuário.
Características da curva de indiferença:
- tem inclinação negativa, da esquerda para direita (assim, respeita a premissa de que o consumidor prefere mais quantidade)
- qualquer cesta acima e à direita é preferida
Mapa de indiferença: descreve o conjunto de curvas de indiferença (conjunto de combinações de mercadorias) que os consumidores preferem em relação a todas as outras combinações. Cada curva de indiferença mostra as cestas de mercado entre as quais a pessoa é indiferente.
- as curvas de indiferença não podem se cruzar (pois violaria pressuposto das quantidades — a premissa de que os consumidores preferem mais quantidade do que menos).
Taxa Marginal de Substituição
A partir da curva de indiferença, pode-se derivar o conceito de Taxa Marginal de Substituição. Conceito importante.
Ideia da taxa marginal de substituição corresponde a quanto se abre mão de uma determinada mercadoria para obter mais de outra mercadoria. Mede a quantidade de uma mercadoria que o consumidor está disposto a desistir para obter mais de outra.
Ex.: Na curva de indiferença da figura acima, no ponto A, abre-se mão de 6 unidades de Pepsi para uma unidade a mais de pizza — a taxa marginal de substituição é 6. No ponto B, a TMgS é igual a 1: abre-se mão de uma Pepsi para 1 pizza.
- a taxa marginal de substituição é decrescente ao longo da curva de indiferença
- a TMgS é medida pela inclinação da curva de indiferença: razão entre a variação de uma mercadoria e a variação de outra mercadoria
TMgS = -
∆ Mercadoria1/
∆ Mercadoria2
Com a taxa marginal de substituição, identifica-se outra característica das curvas de indiferença:
- as curvas de indiferença são convexas. Sentido da escassez. Se há abundância de uma, fica-se mais resistente a abrir mão da outra mercadoria com menos quantidades. À medida que se consome mais de uma mercadoria, o consumidor tende a abrir mão cada vez menos de outra mercadoria
Substitutos perfeitos e complementares perfeitos
Substitutos perfeitos: taxa marginal de substituição de um bem pelo outro é constante — a curva de indiferença é uma linha reta. Ex.: moeda de 5 centavos e moeda de 10 centavos, um é substituto perfeito do outro.
Complementos perfeitos: curvas de indiferença têm ângulos retos a curva tem forma em L, pois o consumo é conjunto. Se não há consumo simultâneo dos dois bens, não há satisfação. Ex.: sapato para pé esquerdo e sapato para pé direito, devem ser consumidos juntos, não há interesse em consumir mais de um e abrir mão de outro.
Utilidade
Número que representa o nível de satisfação que uma pessoa obtém ao consumir uma determinada cesta de mercado (conjunto de mercadorias).
Ex.: se comprar três livros deixa o consumidor mais feliz do que comprar uma camisa, então dizemos que os livros proporcionam mais utilidade a esse consumidor do que a camisa.
A ideia é quantificar a relação.
Funções de utilidade: expressa nível de satisfação em uma relação matemática.
Ex.: Função de utilidade para alimento A e vestuário V é dada por U(A,V)=A+2V.
Na cesta Y tem-se 8 unidades A e 3 unidades V, a utilidade é U(A,V)=8+2*3=14.
Na cesta Z tem-se 4 unidades de cada e U(A,V)=4+2*4=12.
O consumidor prefere a cesta Y, pois a utilidade é maior, o nível de satisfação é maior.
Cada curva de indiferença tem um nível de utilidade — o consumidor prefere a curva com maior nível de utilidade.
Dificuldade para estabelecer uma relação quantitativa entre as utilidades. Questão fundamental é saber o quanto uma cesta é preferível a outra.
- No sentido cardinal: Estarei 3 vezes mais feliz com uma cesta em relação a outra quantidade de mercadorias? Ou estarei 4,5 vezes mais feliz? Difícil determinar.
- No sentido ordinal: mais fácil estabelecer esta relação — ordena os conjuntos de cestas mais preferíveis e menos preferíveis, mas não indica quanto uma é preferível à outra.
- não é possível mensurar objetivamente o nível de utilidade ou o nível de bem estar. Logo, a ordenação ordinal é suficiente para explicar como a maioria das decisões é tomada pelo consumidor.
Restrição Orçamentária
Comportamento dos consumidores depende das preferências, entretanto as restrições orçamentárias limitam a capacidade do indivíduo consumir, tendo em vista os preços que ele deve pagar por diversas mercadorias e serviços.
Linha do orçamento: indica todas as combinações de duas mercadorias que o indivíduo pode consumir —exaure o dinheiro disponível: o total do dinheiro gasto é igual à renda total.
Tem-se a quantidade de A e de B , e o preço PA e o preço PB. Assim, PA*A
é a quantidade de dinheiro gasto com A e PB*B
é a quantidade de dinheiro gasto com B. A linha do orçamento é dada por:
PA*A + PB*B = I
I é a renda total do consumidor.
Há um conjunto de quantidades combinadas dos dois bens que esgota a renda disponível I: diferentes quantidades de A e B que somam a renda total. A linha da restrição orçamentária é reta. A inclinação da linha orçamentária é a razão entre as variações das quantidades, que é igual à razão entre os preços de um e do outro produto.
Inclinação =
∆ A/
∆ B = -PB/PA
Com base na linha orçamentária, constata-se que:
- quantidade relativa: à medida que a cesta consumida se move ao longo da linha do orçamento, o consumidor gasta menos com uma mercadoria e mais com a outra;
- a inclinação da linha mede o custo relativo de A e B, ou seja, a relação de preço entre os dois bens;
- a inclinação é igual à razão dos preços das duas mercadorias com o sinal negativo;
- a inclinação indica a proporção na qual se pode substituir um bem pelo outro sem alterar a quantidade total de renda gasta.
- Intercepto vertical:
I/PA
— indica a quantidade máxima de A que pode ser comprada com a renda I. - Intercepto horizontal:
I/PB
— quantidade máxima de B que pode ser comprada com a renda I — toda a renda é gasta com B.
Efeitos das modificações na Renda
- aumento da renda desloca a linha do orçamento para a direita de forma paralela (dados preços constantes) — maior consumo de bens;
- redução de renda faz a linha se deslocar para esquerda — diminui o consumo.
Efeitos das modificações nos Preços
Provocam rotações na linha orçamentária. Alteração no preço de um produto muda a inclinação da linha de restrição orçamentária.
- Aumento no preço: rotação para a esquerda.
- Redução no Preço: rotação para a direita.
Se modificações nos preços ocorrem para os dois produtos simultaneamente, mas a razão entre os preços permanece inalterada, a inclinação da linha do orçamento não muda — o deslocamento da linha será paralelo.
Se os preços diminuem na mesma proporção, o efeito da redução do preço será o mesmo que o de um aumento da renda total — a curva se desloca paralelamente para a direita (o indivíduo consome mais).
A Escolha do Consumidor
Tendo em vista as preferências e tendo em vista a restrição orçamentária, pode-se analisar a escolha do consumidor: os consumidores escolhem uma combinação de mercadorias que maximiza sua satisfação, dado o orçamento limitado de que dispõem.
Condições da cesta de mercado ótima:
- deve estar situada sobre a linha do orçamento — o consumidor tem que ter renda para adquirir esta cesta;
- deve fornecer uma combinação consistente com a preferência por bens e serviços — atender às preferências do consumidor.
Deve-se relacionar a curva de indiferença com a linha orçamentária
Para a curva de indiferença, considera-se a taxa marginal de substituição (inclinação) TMgS = -
∆ V/
∆ A.
Para a restrição orçamentária, considera-se os preços relativos, que é dado pela inclinação da linha Inclinação = -PA/PV.
Com base nisso, chega-se à condição de maximização de bem-estar do consumidor: ponto no qual a taxa marginal de substituição (curva de indifereça) é igual à razão entre os preços (linha orçamentária). Este ponto é aquele em que TMgS = -PA/PV.
Este é o critério fundamental que estabelece que uma cesta é preferida pelo consumidor e é passível de ser adquirida, dada sua restrição orçamentária.
Em termos matemáticos, podemos afirmar que a satisfação é maximizada quando a taxa marginal de substituição (de A por V) é igual à razão entre os preços (de A e V).
No ponto de tangência da curva de indiferença com a linha de orçamento, o consumidor maximiza sua utilidade, ou seja, nenhum nível mais elevado de satisfação pode ser obtido.
Solução de Canto
Uma solução de canto ocorre quando o consumidor opta por soluções extremas, comprando apenas um tipo de mercadoria.
Deve-se tomar cuidado com as soluções de canto, pois neste caso a taxa marginal de substituição TMgS não é igual à razão entre os preços PA/PB.
- a solução de canto ocorre quando as curvas de indiferença são tangentes ao eixo horizontal ou vertical;
- a TMgS não é igual a PA/PB na cesta escolhida.
Ex.: uma pessoa não gosta de iogurte, mas gosta de sorvete. Toda a renda é gasta em sorvete — a Taxa Marginal de Substituição de sorvete por iogurte é maior que a inclinação da linha do orçamento. Significa que o consumidor estaria disposto a abrir mão de mais iogurte em troca de um pouco de sorvete, se fosse possível.
As soluções de canto não são tão recorrentes nas análises sobre preferência e escolha do consumidor.
Preferências Reveladas
É possível determinar as preferências de um consumidor a partir da observação de suas escolhas, desde que tenhamos informações sobre um número suficientes de escolhas feitas quando preços e renda variam.
A partir das propriedades das curvas de indiferença, consegue-se identificar diferentes tipos de preferências dos consumidores.
Ex.: Duas linhas orçamentárias, sabe-se que o consumidor escolhe A em vez de B, e B em vez de D. Portanto, A é preferida em relação a B e D. Cestas de consumo na área acima de A (área azul) são preferidas em relação a A.
Utilidade Marginal
Quanto de satisfação adicional é obtida com o consumo de uma unidade a adicional de uma mercadoria.
A utilidade marginal é decrescente
Princípio da utilidade marginal decrescente: a cada unidade adicional consumida de um bem, adquire-se cada vez menos satisfação (adicional, na margem).
O bem estar é adicionado em quantidades descrescentes.
Ex.: chocolate — cada barra adicional tende a gerar um acréscimo menor na satisfação. Uma barra gera satisfação, duas geram mais satisfação, mas a partir de certo ponto, o aumento na satisfação tende a ser cada vez menor.
A Utilidade marginal e A Curva de indiferença
A utilidade marginal pode se associar com a curva de indiferença — se o consumo se move ao longo de uma curva de indiferença, a utilidade adicional de um aumento no consumo de uma mercadoria A deve compensar a perda de utilidade da diminuição no consumo da outra mercadoria B.
A taxa marginal de substituição é igual à razão entre as utilidades marginais de A e B. TMgS = UM_A/UM_B.
Sabe-se, também, que a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços TMgS=PA/PB.
Assim, a razão entre as utilidades marginais é igual à razão de preços:
TMgS = UM_A/UM_B = PA/PB
Este é o critério fundamental que permite estabelecer a satisfação e a maximização do bem estar dos consumidores. Os consumidores maximizam a satisfação quando a razão das utilidades marginais for igual à razão de preços.
A equação final, que expressa a maximização da utilidade é um rearranjo da equação acima:
UM_A / PA = UM_B / PB
(utilidade marginal por unidade de moeda é igual para ambos)
Esta equação expressa a condição de maximização do bem estar dos consumidores, dadas suas preferências e dada sua restrição orçamentária.
Conclusão:
A utilidade (o bem estar) é maximizada quando o orçamento é alocado de modo que a utilidade marginal por unidade de moeda despendida é igual para ambas as mercadorias.